*Por Luiz Fernando Leal Padulla
Logo no início da leitura do livro “O mundo segundo a Monsanto”, da jornalista Marie-Monique Robin, não há como não se sensibilizar com tamanhas atrocidades que esta e tantas outras empresas dos “defensivos” químicos fizeram e fazem com o ambiente.
Chama atenção a frase de um documento da Monsanto, de 1970, tornado público em 2002: “não podemos nos dar ao luxo de perder nem sequer um dólar em nossos negócios”. Mais uma vez, a ganância do capitalismo falando mais alto. Moléculas que foram usadas indiscriminadamente sobre populações e suas plantações durante testes e posterior uso na Guerra do Vietnã – sim, essas empresas surgem justamente por desenvolver armas químicas que posteriormente se tornariam “defensivos agrícolas” – acobertadas pela falácia do governo sul-vietnamita, em conspiração com os norte-americanos, que afirmava que “nenhum produto era tóxico e não causaria nenhum dano à natureza, aos animais domésticos, aos seres humanos ou ao solo”. Mas a verdade é que tais produtos foram usados como desfolhantes (o chamado “agente laranja”). Anos depois, veteranos da guerra e suas famílias pagam o preço dessa irresponsabilidade e cobram na Justiça um mínimo de ressarcimento em função dos problemas de saúde, inúmeras doenças e cânceres que surgiram nessas populações – sem contar as várias vidas perdidas, que dinheiro algum trará de volta. Tentando se livrar de punições monetárias, a Monsanto chegou até a fraudar laudos e relatórios para esconder os efeitos tóxicos de seus produtos – sem, com isso, se preocupar com a vida das pessoas e do ambiente.
Não é de se espantar que hoje a atitude seja parecida, evitando ao máximo ser vinculada a esse passado comprometedor, hoje tenta fazer seu marketing sobre os controversos transgênicos, ou Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). Dada a influência que este empresa tem sobre os próprios governos – casos e mais casos são denunciados no livro, com riqueza de detalhes – não é de se estranhar que no Brasil, caminhamos para o fim da rotulagem obrigatória de produtos e alimentos que contenham ingredientes transgênicos. Aprovado pela Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 4.148, de 2008, de autoria do Deputado Luís Carlos Heinze (PP-RS), segue agora para o Senado Federal.
Caso seja aprovado, mostrará não apenas o retrocesso do país, mas também a força e o lobby que essas corporações (em especial, a Monsanto) têm nos bastidores. Uma possível explicação é o fato das informações sobre os riscos potencias que esses produtos podem ocasionar e, consequentemente, o boicote por grande parte da população. Vale lembrar que, a medida que pesquisas sérias e imparciais vêm à tona, mostrando os danos e perigos dos alimentos geneticamente modificados, vários países tomam a precaução de rotulagem, dando ao consumidor a opção do conhecimento – hoje são mais de 60 países que obrigam a rotulagem. Curiosamente, nos Estados Unidos, os deputados decidiram proibir essa identificação. Mera coincidência?
Abrindo um pouco mais o leque, é perturbador e intrigante outro levantamento apresentado pela autora. De todos os “produtos fitossanitários” (ou, como diria José Simão, tucanaram os “agrotóxicos”!) lançados no planeta apenas 0,3% atinge os organismos alvos, enquanto que 99,7% vão para outros lugares, como solo e água. Assim, vemos que o problema vai além do produto contaminado. Podemos (e com certeza estamos) ingerindo e absorvendo poluentes de forma indireta.
Pesquisas mostram, por exemplo, que o herbicida mais utilizado no mundo (Roudup – à base do glifosato), altera significativamente o sistema hormonal, reduzindo em 94% a produção de hormônios sexuais masculinos pelos testículos. Casos de depressão, transtorno e déficit de atenção, hiperatividade e até autismo já foram relacionados ao Roudup e a dioxina (presente no agente laranja). Isso me faz pensar se os alunos presentes nas salas de aula, diagnosticados com alguns desses transtornos neurológicos – em número cada vez maior, diga-se de passagem – não seriam vítimas, de alguma maneira, desses agroquímicos.
Outra ponderação extremamente importante: a resistência de bactérias aos antibióticos. Recentemente tivemos no Brasil vários casos de pessoas internadas e isoladas por conta das chamadas “superbactérias” – algumas, inclusive, vieram a óbito. Por trás disso, também está a Monsanto, com o “Hormônio do crescimento bovino rbGH”. Ao injetar esse hormônio transgênico nas vacas para que produzam mais leite, o efeito colateral é o surgimento de infecções nas mamas (doença conhecida como mastite), fazendo com seja produzida maior quantidade de glóbulos brancos (pus) que vai diretamente para o leite. Ao tratar a vaca com antibióticos, esses medicamentos ficam igualmente no leite, sob a forma de resíduo. E aí, quando bactérias entram em contato com os antibióticos, eis que surge a teoria da seleção natural e faz seu papel, selecionando as mais resistentes…
Por fim, para não alongar anto, todos, hoje em dia, conhecem alguma pessoa que tem ou teve câncer. Entre levantamento realizado em mulheres norte-americanas, acima de 50 anos, entre os anos de 1994 (quando entrou em circulação no mercado o rbGH) até 2002, foi constatado um aumento de 55,3%. Dados, no mínimo, intrigantes.
Por mais que apresentem laudos (seriam confiáveis, dado o histórico fraudador e corrupto?), os mesmos não são nada conclusivos. E o caminho que estamos tomando hoje, ao liberar o plantio dessas sementes, assim como o consumo desses produtos, pode ser sem volta. Estamos pagando para ver o surgimento de um novo DDT (tido como revolucionário para a agricultura, mas anos depois proibido pelos efeitos danosos à vida) em pleno século XXI?
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Sugestão de leitura (antes que tirem do ar!): Estudos que mostram a ação de transgênicos sobre mamíferos (http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/os-efeitos-dos-transgenicos-em-ratos)
Caso seja igualmente contra o fim da rotulagem, segue um abaixo-assinado: http://www.idec.org.br/mobilize-se/campanhas/fim-da-rotulagem-dos-alimentos-transgenicos-diga-no
*Professor e Biólogo
10 comentários sobre “Os casos envolvendo a Monsanto e outras corporações”