Microcefalia: culpa do Zika ou da Monsanto?

*Por Luiz Fernando Leal Padulla

Confesso que, apesar de admirar certas teorias conspiratórias, não sou adepto de divulga-las como fatos. A mais recente delas, merece breve destaque aqui, justamente por muitas coincidências, e apoio de vários especialistas, a ponto de não ser apenas mais uma teoria, mas uma possível realidade. Estamos falando da microcefalia, doença que causa um crescimento menor do cérebro e do crânio, o que pode comprometer o desenvolvimento do indivíduo. Atualmente, está sendo relacionada ao Zika vírus, cuja origem foi relatada pela primeira vez na floresta de Zika, em Uganda, atacando primatas.

Inúmeros casos da doença estão, a cada instante, aumentando não apenas no Brasil, mas em vários países, a ponto da ONU lançar uma alerta mundial. O que temos que entender é que ela não é uma novidade. O que está sendo novidade é sua POSSÍVEL associação com o vírus Zika, transmitido pelo Aedes aegypti (que também é o transmissor da dengue, chikungunya e febre amarela). Tal associação se sugere pois onde ocorre a presença do mosquito contaminado com o vírus, os índices de microcefalia são muito elevados – a incidência estimada normalmente é de 0,1% de casos graves na população geral.

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Crédito: reduas.com.ar

Médicos e pesquisadores até encontraram evidência que relacionam alguns poucos casos de microcefalia com o Zika vírus, mas e os outros casos? Como explicam?  Eis que surge uma forte evidência, para o desespero das grandes corporações: larvicida Pyriproxyfen, utilizado no controle dos mosquitos.

Desde 2014, esse inseticida – que é aprovado tanto pela ANVISA como por órgãos internacionais e pela OMS – vem sendo utilizado em larga escala no Brasil para o controle de larvas do mosquito, sendo orientada sua aplicação diretamente em corpos d’água, incluindo água potável, que é ingerida pelas pessoas. Um grupo de médicos da Argentina e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), levantam a hipótese deste químico ser um dos causadores direto da doença. Hoje, são mais de 5000 casos de microcefalia diagnosticados no país todo, sendo a região Nordeste detentora do maior número deles. Curiosamente, nessas regiões mais pobres é onde mais se utilizou o produto.

Como já escrevi em outros posts (veja aqui: https://biologosocialista.wordpress.com/2016/02/13/o-veneno-continua-sobre-a-mesa/, https://biologosocialista.wordpress.com/2016/01/13/os-casos-envolvendo-a-monsanto-e-outras-corporacoes/ e https://biologosocialista.wordpress.com/2016/01/22/a-feminizacao-da-humanidade/ ), as formulações químicas, produzidas por grande corporações, são vendidas sob alegações nem sempre tão verdadeiras e seguras. E quem paga o preço disso tudo somos nós e o próprio ambiente.

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Crédito: ecowatch.com

Esse inseticida é produzido pela Sumitomo Chemical, que é parceira da multinacional Monsanto. Foi nesse período, inclusive, que a própria Sumitomo anunciou sua parceria com a Monsanto para expandir suas ações no controle de pragas na América Latina.

De acordo com o relatório dos médicos argentinos, “não é coincidência”, a ocorrência das má-formações encontradas em recém-nascidos de grávidas que moram em locais onde o Pyriproxyfen passou a ser utilizado na água.

Outro ponto que chama atenção no relatório é a afirmação que diz que o Zika vírus, tradicionalmente é considerado uma doença relativamente benigna, sem maiores complicações, sem associação com anomalias.

O que podemos concluir com tudo isso?

Será que as respostas chegarão ao nosso conhecimento e Monsanto e cia. serão responsabilizadas e pagarão por tudo? Ou será essa mais uma geração de indivíduos afetados pela indústria química, tal como foram aqueles mutilados pela talidomida (vendido como remédio contra o enjoo para grávidas, mas que deformava seus bebês)? Ou ainda, das milhares de pessoas que sofreram e ainda sofrem sob os efeitos do glifosato e tantos outros agrotóxicos dessas corporações?

Resta uma esperança. Ou tudo será magicamente abafado e esquecido? Afinal, é mais fácil culpar um mosquito e um vírus do que “peitar” grandes corporações, como outros pesquisadores e pessoas sérias já vivenciaram.

Em tempo: Independentemente de ser essa a causa da microcefalia, é extremamente importante que mantenhamos a atenção e evitemos a proliferação dos mosquitos, pois doenças como Dengue, Chikungunya e Febre Amarela são transmitidas por esses vetores! Cada uma fazendo sua parte, cuidando dos vasos, quintais, calhas, bebedouros e demais objetos que possam acumular água, conseguiremos reduzir e eliminar tais doenças!

*Biólogo e professor, Doutor em Etologia, Mestre em Ciências

3 comentários sobre “Microcefalia: culpa do Zika ou da Monsanto?

    1. Essa história já foi desmentida inclusive pela fonte de tal informação. A internet é um ambiente extremamente frágil para verdades e sucetivel a proliferação de mentiras supostamente acadêmicas.

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      1. Pedro, de fato eles negaram no dia seguinte. Mas conhecendo a força que a Monsanto tem (sugiro a leitura do livro “O Mundo Segundo A Monsanto”), não duvido que tenha sido obrigados ou até mesmo pagos para isso. A questão não é ser a internet um ambiente “perigoso”, mas uma mente fechada e manipulada também é!

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