*Por Luiz Fernando Leal Padulla
Quinta-feira, 17 de agosto. 23 horas e 40 minutos. Após retornar da faculdade e me encaminhar para levar a filharada canina para o quintal, eis que Branquelo dá um breve grito e começa a lamber sua pata dianteira esquerda. Temi pelo pior e estava certo. Acendi as luzes do corredor e lá estava aquele aracnídeo amarelo e marrom, grande, com seu télson erguido, mas com o corpo encolhido após picá-lo. Era um escorpião.
(Curiosamente, nessa mesma noite, durante a aula, conversamos sobre escorpiões)
Ameacei me desesperar, mas a calmaria se fez presente. Chamei Branquelo para dentro de casa e coloquei um pouco de gelo para impedir a proliferação rápida da toxina. Enquanto isso, acordei minha esposa para que ligasse para nossa amiga veterinária.
Sem sucesso, decidi leva-lo imediatamente para a clínica L&M que atende 24 horas – a mesma que já havia levado Manuela, também durante uma madrugada, quando foi picada por alguma coisa que desencadeou uma reação rápida em seu organismo, derrubando sua pressão arterial e causando inchaço em seu focinho.
A essa altura, já dentro do carro, procurava manter-me calmo enquanto minha esposa dirigia. Branquelo começou a sentir dor e chorava em meu colo, com sua pata encolhida. Tentava acalmá-lo assim como posicioná-lo de maneira que amenizasse seu desconforto.
Enfim, chegamos. Rapidamente fomos atendidos pela Dra. Andressa que, simpática e calmamente aplicou a medicação exigida e nos tranquilizou – nem parecia que estava de plantão em plena madrugada. Sangue foi coletado para exames e após isso, com certo aperto no coração, tivemos que deixa-lo internado por 24 horas para monitoramento e observação, com a promessa de que se algo acontecesse, iria nos avisar.
Chegamos em casa e tiramos os celulares do modo silencioso.
Com o trauma da picada ainda presente, optei por dormir na sala com seus irmãos. Noite esta, que seria desnecessário dizer que foi muito mal dormida por minha parte – mas para os demais (Negão, Suricato, Manuela e Lia), uma farra do tipo “acampamento de férias”, onde se empoleiravam sobre mim e dormiam tranquilamente.
Na manhã que se erguia, fui lecionar – com sono e preocupado – mas conseguindo manter o foco em meus alunos
Ansioso com notícias de Branquelo, mando mensagem à clínica. No intervalo de aula, recebo a notícia de que ele passou muito bem a noite e que no final da tarde já teria alta.
Pude, finalmente, dar uma leve relaxada.
Ao término da aula, voltei para casa e imediatamente entrei em contato com a clínica para saber que horas poderia busca-lo – seus irmãos também mostravam-se ansiosos, em especial Lia Maria, que estranhava sua ausência. Em resposta, às 16h.
O tempo parecia não passar. Mas eis que chegou. Mais aliviados, chegamos e fomos atendidos novamente por outra excelente e humana profissional. Dra. Dhâranâ, muito atenciosa nos colocou à par de tudo o que se passou com Branquelo, mostrou sua ficha, seus exames e me levou até ele.
Que alívio poder vê-lo e tê-lo são e salvo em meus braços.
Branquelo estava assustando ainda. De acordo com a doutora, ainda sentiria um pouco de dor. E no dia seguinte deveríamos retornar para ser reavaliado.
E voltamos para casa. Solto novamente em sua casa, correu, latiu, brincou. Como toda criança, até cometeu uns abusos leves para quem ainda não estava 100%.
Seu carinho, sempre sua marca registrada, era notório. Baixava sua cabeça sob meu colo e pedia afago. Quando parava, com sua pata pedia mais.
Depois de dar-lhes comidas, decidi dar uma geral pelo quintal e na frente de casa, água, cândida e sabão. Lavei minuciosamente tudo, incluindo suas casinhas. Afinal, não quero nova surpresa como essa.

Aproveitando que sábado era meu dia de folga, optei por dormir mal novamente e lá fomos todos para a sala. No sofá, eu, Branquelo, Manuela e Suricato. Ao lado dele, Negão. E na cama com a mãe, Lia – que vez ou outra aparecia na porta da sala para verificar como estávamos.
Entre empurrões no sofá – sem falar o ronco intermitente de Negão, que chamava a atenção de Manuela a medida que ele resmungava mais alto, mostrando feições do tipo “pai, o que que o Negão tá fazendo?” – como pai preocupado que sou, acordava de tempo em tempo para olhar Branquelo e certificar-me de que tudo estava bem. A respiração as vezes ofegante chamava a atenção, mas era esperando justamente pela medicação que tomara.
Logo cedo, despertos do sono, levei-o para o retorno. Desta vez, ele pôde curtir o caminho e a paisagem chuvosa que se apresentava na janela do carro. Após atendimento do Dr. Raul – que também se mostrou muito atencioso e prestativo – e as últimas injeções de medicamentos, retornamos para casa.

O corpo e a mente poderiam descansar. E nada melhor do que uma mansa e agradável chuva caindo para nos acomodar. Na mesma sala de noites mal dormidas, agora pude finalmente apagar.
E tudo isso só foi possível graças à ajuda e dedicação de profissionais como Dra. Andressa, Dra. Dhâranâ e Dr. Raul. Minha singela homenagem e agradecimento a ess@s profissionais que, junto de tant@s outr@s mostram o que é trabalhar com amor pela profissão! Pessoas que acima de qualquer cansaço, sempre mantém o sorriso no rosto e a serenidade no olhar!
Em tempo: Amo a Biologia. Amo e sou apaixonado por ser biólogo. Mas este ano voltei a estudar – se é que algum dia parei – e desta vez, optei pela Medicina Veterinária. Escolha essa que sempre esteve presente, mas que nunca havia sido possível concretizá-la. O sonho não acabou. Pelo contrário. E essas pessoas que aparecem em nossas vidas, nos inspiram e motivam cada vez mais a seguir esse caminho!
*Professor, Biólogo, Doutor em Etologia, Mestre em Ciências, Especialista em Bioecologia e Conservação. Graduando em Medicina Veterinária.